quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Quando o telefone tocar


Fonte: www.educare.pt
Por: Armanda Zenhas

O tempo passou. Alfredo continuou a faltar à escola. Começaram a surgir problemas disciplinares. As cartas continuavam sem respostas. Processo disciplinar em curso. Novo telefonema. Desta vez, a voz do pai do Alfredo (ou do próprio Alfredo?) mostrou-se preocupada...

Alfredo faltava às aulas frequentemente. A diretora de turma prevenia o encarregado de educação por carta e pedia-lhe que se deslocasse à escola, mas nunca obtinha resposta. Resolveu telefonar para o telemóvel referido na ficha do aluno - único telefone de contacto com a família, de acordo com o Alfredo. O pai (cuja voz era, estranhamente, igual à do filho) afirmou que lhe era impossível deslocar-se à escola, qualquer que fosse a hora.. Trabalhava muito!

O tempo passou. Alfredo continuou a faltar à escola. Começaram a surgir problemas disciplinares. As cartas continuavam sem respostas. Processo disciplinar em curso. Novo telefonema. Desta vez, a voz do pai do Alfredo (ou do próprio Alfredo?) mostrou-se preocupada. Que sim. Que iria à escola. Então o seu filho estava com um processo disciplinar? Tinha que saber disso, pois claro. Se ele não pudesse ir, poderia ir a esposa? Pois então ficava combinada a hora. Lá estaria sem falta.

À hora marcada, lá ficou a diretora de turma à espera, a sós com as suas suspeitas acerca daquela voz de pai, tão igual à do filho.

Eis que na história entram novas personagens: a associação de pais, que se prontificou a deslocar-se à residência do aluno. Esta é uma associação de pais de uma escola onde o absentismo dos alunos vai crescendo. Onde os problemas disciplinares se vão multiplicando. Onde os contactos com muitos encarregados de educação se vão complicando. Onde os problemas sociais das famílias encontram reflexo. Uma escola onde profissionais como assistentes sociais continuam a não existir. Onde a existência de técnicos com formação e disponibilidade para visitar as famílias e intervir junto delas não passa de uma necessidade e de um sonho. Nesta história, foi a Associação de Pais que, com boa vontade e à custa do tempo pessoal dos seus elementos, não obstante não ser essa uma das suas atribuições, contribuiu para a resolução do problema do Alfredo.

A situação familiar e social que a Associação de Pais foi encontrar não é sequer fácil de imaginar. O facto é que os pais deixaram de estar na ignorância acerca do que se passava na escola (era de facto o Alfredo quem atendia o telemóvel e era ele quem 'recebia' as cartas da escola). Tomaram consciência da necessidade de, na sua luta pela sobrevivência quotidiana, terem de encontrar tempo para estabelecer contactos frequentes com a diretora de turma, a fim de tentarem levar o seu filho a ser mais assíduo e a afastar-se de uma via de delinquência. A escola encontrou formas de estabelecer contacto, graças à intervenção da Associação de Pais. Quando o telefone tocar (para um telefone fixo), será já outra voz, bem diferente da do Alfredo, a atender.

Esta é uma história inacabada, para a qual podem ser imaginados muitos fins. A rematar, algumas pistas de reflexão que ela poderá levantar:
- Qual é o papel dos pais, da escola e da sociedade face à educação dos jovens?
- Que novos profissionais são necessários na escola de hoje e com que funções?
- Que perfil deve ter o diretor de turma e quais são as suas funções?
- Que colaboração pode e deve existir entre as escolas e as Associações de Pais?

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