quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Conto: "O príncipe Imaginário"

     Era uma vez um rei que tinha uma filha a quem queria mais do que tudo no mundo. Quando chegou à idade de casar, o rei propôs-lhe que escolhesse um noivo, porque não queria que o trono ficasse sem herdeiro. 

     Ela não gostou da proposta que o rei, seu pai, lhe fez porque estava apaixonada por um príncipe que ela via todas as noites em sonhos, falando sempre com ele. Depois disse ao rei que só casaria com o seu noivo que ela via todas as noites em seus sonhos.
     O rei, quando tal ouviu, riu-se a valer e deixou passar ainda muito tempo, porque achou muita graça aos sonhos dela e atribuiu a criancice; mas, quando chegou o tempo devido de a princesa se casar, tornou-se mais séria a sua recusa. Chegou a tal ponto o desgosto do pai que a ameaçou com a morte, se não escolhesse o noivo, que então escolhê-lo-ia ele!
     Por fim, o rei, seu pai, receando que o trono ficasse sem herdeiro, decidiu meter medo à filha, dizendo-lhe que lhe dava três dias para pensar, e se, no fim deste tempo não escolhesse o noivo, que havia de casar por força com um nobre da corte.
     Ela, coitadinha, com quem chorava e desafogava era com a ama, que a criou e que lhe queria tanto como se fosse sua filha.
     Levaram ambas a rezar três noites quase inteiras à janela, para que se lhe aparecia o seu príncipe imaginário, mas ele não aparecia. No último dia, já ao escurecer, quando já esperança alguma as alentava, e chorando ambas com grande aflição, ouviram trotar um cavalo, e a princesa pegou na mão da ama disse-lhe:
    – Ó ama, é ele que aí vem! É ele, é ele!
     No mesmo instante, aparece um cavaleiro, montado num riquíssimo e lindo cavalo, e fez-lhes sinal para que seguissem sem ninguém saber. Ele ia correndo a bem correr, voltado para elas e com a mão estendida indicando-lhes o caminho, e lá foram elas correndo atrás dele, como que magnetizadas e sem se cansarem.
     Ao romper a manhã, chegaram a uma grande cidade e, no momento de a avistarem, desapareceu o príncipe. Mas elas quase não se incomodaram com isso, pela esperança que já as confortava, e começaram a admirar que uma grande cidade se não ouvisse sequer um zumbido de um mosquito.
     Subiram e andaram vendo o palácio, e deram com uma grande sala que conheceram logo de pessoas reais, mas qual foi o seu espanto viram o rei, a rainha, e o príncipe, que ela conhece ser o seu noivo. Mas tudo transformado em pedra. Como estavam cansadas de tantas sensações fortes, deitaram-se.
     Pela manhã acordaram, e sempre o mesmo silêncio, mas a princesa contou:
    – Sabes o que sonhei, ama? Que eu é que tinha de desencantar esta cidade inteira! Hoje ao meio-dia, tenho de ir dar uma grande bofetada no meu príncipe, que está amortalhado e morto na grande sala! Vê tu ama, se eu terei medo sabendo que, se tiver o menor susto de lhe dar a bofetada, fico sem ele. Não, não tenho medo algum!
     Esperou o meio-dia com grande prazer, assim que o relógio deu doze badaladas, abre a porta do salão e vê o seu príncipe amortalhado num caixão. Reuniu toda a sua coragem e avançou para ele e, levantando a sua linda mão, deu-lhe uma bofetada que até fez eco.
     No mesmo instante, levantou-se o morto, já vivo, e abraçou a sua querida princesa, agradecendo-lhe o ser ela que o tinha livrado daquela desgraça. Ela não estava em si de admiração, pois que tudo tinha recuperado a voz, de tal modo que o grande silêncio que havia se transformado num labirinto: as pessoas a falar, os passarinhos a cantar, os sinos a tocar… e tudo numa grande alegria corria de um lado para o outro a perguntar quem foi a santa e corajosa que os tinha desencantado!
     Correram o palácio e lá viram o rei e a rainha a abraçarem a linda menina que os salvara daquela triste sorte. Mandaram embaixadores avisar o rei da façanha da princesa.
     Ele que já estava arrependido de a querer obrigar a casar, correu logo a ir abraçá-la. Assim que chegou, celebrou-se o casamento dos príncipes que tiveram muitos filhos e viveram, talvez, mais de cem anos, sendo a rainha mais feliz e melhor que houve.
O príncipe Imaginário e Outros Contos Tradicionais
(Adaptado)

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