quarta-feira, 20 de maio de 2009

Prova Geral Interna de Língua Portuguesa
10º ano

Ano Lectivo
2006/07
Ministério da Educação e Ensino superior
Escola Secundária do Palmarejo
Prova Geral Interna de Língua Portuguesa
10º ano
Teste A
TEXTO
Zé Viola, à entrada do pátio, olhava para ela como se quisesse pedir alguma coisa. Mas Joquinha observou nele uma careta duvidosa que tanto podia exprimir estupidez como velhacaria.
- Então Violão, que há? - Perguntou, dando uns passos e parando diante do rapaz.
A boa disposição do hóspede do patrão estimulou Zé Viola:
-Ocê desculpe, nhô Joquinha. Não é atrevimento da minha parte. Quando dois homens expressam razão ninguém tem nada que saber o que se passa no meio deles. Mas eu não estava a escutar. Encostei – me a este muro pra descansar uma muínha e espiar este pé esfolado duma topada, e sem querer ouvi o que ocê disse a Mané Quim.
- Bem, bem. Não tem nada, moço, não era segredo.
- Eu pensava conversar cá pra mim: Sorte não é pra todo o vivente. Se eu encontrasse quem me quisesse levar pró Brasil ou América, encostava a enxada atrás da porta e dizia logo: - “Bá ‘mbora “, – mas ocê dizia umas coisas … Eu já esqueci de escrever a minha graça, sabe ocê? - mas sou entendido e sei expressar razão. Mão direita sabe o que é que mão esquerda quer.
Pois então quem desconhece isso? Tu és um moço sabido, eu sei. Dize lá que é que não gostaste de ouvir então?
- Ocê falou na chuva acabar … Nhô do tempo, a gente estuda no cariz das rochas, nas nuvens, na linha do mar, na cor que o céu mostra, no anel da lua, na endireitura do vento, no cheiro que ele traz. Tem mil maneiras. Uns sabem estudar melhor que outros: o lunário de Nhô Vital não fala assim como ocê. Nhô Vital estuda no lunário e sabe ver nos astros. Diz que vai chover – e quando ele diz que chove é porque chove – a não ser se Deus não quer. Mas você meteu – me medo direito, porque sei que neste mundo tem homens de muita sabedoria, uns são mais sabidos que outros, cada qual com a sua prenda e seu sentido. Mas tá a ver que se dois homens tem muita sabedoria e um diz que sim e o outro diz que não, nós os coitadinhos ficamos a fazer cruzes na boca a ver quem vem virar pra um lado ou pra um outro. Se a chuva acabar deveras, não sei o que vai ser. Um rabo pelado como eu – acrescentou Zé Viola com um esgar de cómica desolação – pode quebrar a enxada e meter a cabeça num buraco. Que é que vai ser do mundo se a chuva acabar? Ocê acha que vai acabar deveras?
- Eu não disse que a chuva vai acabar, moço, não posso adivinhar. Nem eu nem nhô Vital com o seu lunário. Chuva quando vem, vem e pronto. Se não vem … O homem não pode fazer nada contra a vontade de Deus, ninguém sabe o que vai acontecer no dia de amanhã …
Zé Viola sentiu um grande alívio.
- Nhô Joquinha desculpe – retrucou com o moral levantado – eu não tenho sabedoria pra discutir com ocê, mas a mim me parece que chuva não é adivinhada, é estudada. Quase que a gente sente seu cheiro a randar … Nhô Vital pode até dizer o dia em que ela chega. Mas agora isso de cair, cai na vontade de Deus, sim. Deus até pode mandar um calor muito grande que seca a chuva antes de chegar na terra. Ocê sabe mais que a mim. O que digo a ocê é que um homem nunca deve perder a fé porque fé de homem dá força nas coisas. Nha-mãe falava assim. E nhô Lourencinho, que é um velho que tem muito pensar debaixo do boné, diz que só perde a fé quem não tem alma.
(adaptado)
Manuel Lopes, Chuva Braba
Após uma leitura cuidada e atenta, responde às que questões que lhe são colocadas de forma clara.
I
1.Sugere um outro título para o texto, justificando a tua escolha.
2.Localiza as acções no espaço.
3. Caracteriza o narrador deste texto quanto à presença, justificando a tua resposta com
exemplos retirados do texto.
4. Zé Viola emprega palavras, expressões e construções de frases próprias ou muito próximas da língua cabo-verdiana.
4.1 Identifica-as e substitui-as pelas formas correspondentes na língua padrão.
5. Considera a seguinte expressão:
«Quando dois homens expressam razão ninguém tem nada que saber o que se passa no meio deles.»
5.1.Explica o seu sentido.
II
1.Substitui por pronomes, as expressões destacados nas seguintes frases:
a) Mas Joquinha observou nele uma careta duvidosa.
b) Joquinha fez um convite ao Zé Viola.
c) Se eu encontrar quem me quisesse levar pró Brasil ou América, encostava a enxada atrás da porta.
2.Retira do texto 3 (três) figuras de estilo, exemplificando-as.
3.Identifica o nível de língua presente nas seguintes frases:
a) «Zé Viola, à entrada do pátio, olhava para ele como se quisesse pedir alguma coisa.»
b)«Encostei-me a este muro pra descansar uma muínha e espiar este pé esfolado de uma topada e sem querer ouvir o que ocê disse a Mané Quim.»
4. Faz a análise sintáctica da seguinte frase.
A boa disposição do hóspede do patrão estimulou Zé Viola.
III
1. Num texto coerente (aproximadamente 10 dez linhas), diz que é que te leva a concluir que este texto é da autoria de um escritor cabo-verdiano, não esquecendo de referir a linguagem e a temática.

Teste B
Após uma leitura cuidada e atenta, responde às que questões que lhe são colocadas de forma clara.
I
1.Quem é a personagem principal deste texto? Justifica a tua resposta.
2. Caracteriza o narrador deste texto quanto à ciência. Justifica a tua resposta com exemplos do texto.
3. Comenta a seguinte afirmação.
«O que digo a ocê é que um homem nunca deve perder a fé porque fé de homem dá força nas coisas.»
4. «Nhô Lourencinho, que é um velho que tem muito pensar debaixo do boné, diz que só perde a fé quem não tem alma.»
4.1. Explica o sentido da expressão sublinhada.
5. Classifica a narrativa quanto à conclusão. Justifica a tua resposta com base no texto.
II
1. Substitui por pronome, as expressões destacadas nas seguintes frases:
a) Nhô Vital não diz assim.
b) A boa disposição do hóspede do patrão estimulou Zé Viola.
c) Eu já de escrever a minha graça.
1.1. Analisa sintacticamente a frase da alínea b).
2. Retira do texto 3 (três) figuras de estilo, exemplificando-as.
3. Identifica o nível de língua presente nas seguintes frases:
a) «Quase que a gente sente o seu cheiro a rondar…»
b) «Zé Viola com um esgar de cómica desolação.»
III
1. Num texto coerente (aproximadamente 10 dez linhas), diz que é que te leva a concluir que este texto é da autoria de um escritor cabo-verdiano, não esquecendo de referir a linguagem e a temática.

Ano Lectivo
2006/07

Ministério da Educação e Ensino superior
Escola Secundária do Palmarejo
Prova de Recurso de Língua Portuguesa

10º Ano

Teste A
Liberdade Adiada
Sentia-se cansada. A barriga, as pernas, a cabeça, o corpo todo era um enorme peso que lhe caía irremediavelmente em cima. Esperava que a qualquer momento o coração lhe perfurasse o peito, lhe rasgasse a blusa.
Como seria o coração?
Teria mesmo aquela forma bonita dos postais coloridos?
Seriam todos os corações do mesmo formato?
… Será que as dores deformaram os corações?
Pensou em atirar a lata de água ao chão, esparramar-se no líquido, encharcar-se, fazer-se lama, confundir-se com aqueles caminhos que durante anos e mais anos lhe comiam a sola dos pés, lhe queimavam as veias, lhe roubavam as forças.
Imaginou os filhos que aguardavam e que já deviam estar acordados. Os filhos que ela odiava!
Aos vinte e três anos disseram-lhe que tinha o útero descaído. Bom seria que caísse de vez! Estava farta daquele bocado de si que ano após ano, enchia, inchava, desenchia e lhe atirava para os braços e para os cuidados mais um pedacinho de gente.
Não. Não voltaria para casa.
O barranco olhava-a, boca aberta, num sorriso irresistível, convidando-a para o encontro final.
Conhecia aquele tipo de sorriso e não tinha boas recordações dos tempos que vinham depois. Mas um dia havia de o eternizar. E se fosse agora, no instante que madrugava? A lata e ela, para sempre, junta no sorriso do barranco.
Gostava da sua lata de carregar água. Tratava-a bem. Às vezes, em momentos de raiva ou simplesmente indefinidos, areava-a uma, dez, mil vezes, até que ficava a luzir e a cólera, ou a indefinição se perdiam no brilho prateado. Com o fundo de madeira que tivera que lhe mandar colocar, quando começou a espirrar água e já não suportava uma torcida de farrapo, ficou mais pesada, mas não eram daí os seus tormentos.
Atirar-se-ia pelo barranco abaixo. Não perdia nada. Aliás nunca perdeu nada. Nunca teve nada para perder.
Disseram-lhe que tinha perdido a virgindade, mas nunca chegou a saber o que aquilo era.
À borda do barranco, com a lata de água à cabeça e a saia batida pelo vento, pensou nos filhos e levou as mãos ao peito.
O que tinha a ver o filho com o coração? Os filhos …Como ela os amava, Nossenhor!
Apressou-se a ir ao encontro deles. O mais novito devia estar a chamar por ela.
Correu deixando o barranco e o sonho de liberdade para trás.
Quando a encontrei na praia, ela esperando a pesca, eu atrás de outros desejos, contou-me aquele pedaço da sua vida, em resposta ao meu comentário de como seria bom montar numa onda e partir rumo a outros destinos, a outros desertos, a outros natais.
Dina Salústio
Mornas eram as noites
Depois de uma leitura cuidada do texto, responde forma clara e concisa as perguntas que te são colocadas.
1. Justifica o título do texto.
2. Classifica justificando o narrador quanto à presença.
3. Comenta as seguintes expressões:
a) «Atirar-se-ia pelo barranco abaixo não perdia nada. Aliás nunca perdeu nada. Nunca teve nada a perder.»
b) «Correu deixando o barranco e o sonho de liberdade para trás.»
4. Porque é que a protagonista se sentia desesperada?
5. Porque é que aos vinte e três anos disseram-lhe que tinha o útero descaído?
6. Qual era o relacionamento existente entre ela e os seus filhos? Justifica com expressões do texto.
7. Retira do texto duas figuras de estilo, exemplificando-as.
8. Diz em que discurso se encontra o primeiro parágrafo do texto, e passa-o para o discurso contrário.
9. Identifica, exemplificando os modos de expressão literária presentes neste texto.
II
1. «A língua permite nos comunicar e exprimir os mais variados sentimentos, emoções, experiências, projectos …»
Distingue língua materna de língua nacional.
III
1. Dos temas que se seguem, escolhe um e só um e desenvolve-o.
A – Num texto conciso e bem organizado, não ultrapassando vinte linhas, fala do que pensas acerca do comportamento /atitudes da protagonista do texto em análise.
B – Faz o resumo deste texto, não se esquecendo das técnicas que deves ter em conta na sua elaboração.

Teste B

Depois de uma leitura cuidada do texto, responde de forma clara e concisa as perguntas que te são colocadas.
1. Dá um outro título ao texto e justifica a tua escolha.
2. Classifica e justifica o narrador quanto à ciência.
3. Comenta as seguintes afirmações:
a) «Imaginou os filhos que aguardavam e que já deviam estar acordados os filhos que ele odiava!»
b) «O barranco olhava-a, boca aberta, num sorriso irresistível, convidando-a para o encontro final.»
4. Refere-te ao estado de espírito da protagonista e justifica a tua resposta.
5. Porque é que pensou em atirar a lata de água ao chão e esparramar-se no líquido encharcar- se?
6. «Gostava da sua lata de acarretar água».
6.1. Que representava a lata para ela?
7. Retira do texto, duas figuras de estilo, exemplificando-as.
8. Diz em que discurso se encontra o oitavo parágrafo do texto e passa-o para o discurso contrário.
9. Identifica, exemplificando os modos de expressão literária presentes neste texto.
II
1. «A língua permite -nos comunicar e exprimir os mais variados sentimentos, emoções, experiências, projectos …»
1.1. Distingue a língua estrangeira da língua segunda.
III
1. Dos temas que se seguem, escolhe um e só um e desenvolve-o.
A – Num texto conciso e bem organizado, não ultrapassando vinte linhas, fala do que pensas acerca do comportamento /atitudes da protagonista do texto em análise.
B – Faz o resumo deste texto, não se esquecendo das técnicas que deves ter em conta na sua elaboração.Bom trabalho

3 comentários:

  1. o conto foi muito bem escolhido.parabenizo a possibilidade de os alunos resumirem o texto ou proferirem comentários acerca da atitude do protanista. no nosso contexto a escrita está sendo um pouco desvalorizada. neste sentido fico aliviada. parabens

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  2. Obrigado pelo incentivo.
    Esperamos agradar os nossos leitores. Essa deve ser a nossa responsabilidade para com todos.

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