quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

(A)pago os ões (versão impressa no jornal A semana - 6 de janeiro de 2012)

Aprendi na claridade das velas que o “ão” tem três plurais: ães, ãos e ões. Decidi então procurar nas lamparinas do meu juízo um palavrão para ver com qual eu podia ter a luz ideia de iluminar essa clari-cidade: dei de caras com um… apagão.

Nesses dias de Natal “Festa de Luz”, bruma que reluz e frio que seduz estar sem energia elétrica da ELETRA* É LETRA. O mais normal assunto do dia-a-dia. Agora, por exemplo, estando eu a ouvir “ lá na céu bó é um strela qui ca ta brilhá…” fico com vontade de transportar para minha realidade “…li na tera bó é lânpida ki sa ta fitxe-fatxe, gilera ta kongela ta diskongela, motoris ta ronka funaná na rua”. Porém, duvido se a eletricamania praiense que viruscendiou pelo país me permitirá. Se não conseguir é porque houve um “black out” ou… um branco!

O normal nesta cidade, num verão (todo o ano) frio ou mornal, é a falta de energia. Todos se queixam. Eletra dos fornecedores de combustível. Fornecedores de combustível da Eletra. Eletra dos consumidores. Consumidores da Eletra. Câmaras municipais da Eletra. Eletra das câmaras municipais. Governo da Eletra. Eletra do governo. Eletra de Cabo Verde. Cabo Verde da Eletra. Eletra do planeta Terra. Planeta Terra da Eletra… e que Deus não nos escute mais essa meditação, reza ou oração.

Acho que está faltando alguém aí, heim! Quem será? Hã, bomm: Os que não consomem, ou melhor, os que não pagam pelos com-sumos. Porque estes bebem noutros fornecedores. Consomem noutros com-sumo-dores. Moram noutros municípios. São governados noutros países. Residem noutras Cascas de Banana Verde.

Casa sem luz elétrica todos reclamam, todos discutem e ninguém tem luz eletra. Os afortunados pelo azar têm a buena-dicha de serem eles que vão pagar os com-sumos da iluminação pública porque os com-sumo-dores não estão (dis)postos a tirar o pouco da muita miséria que recebem para pagar aquilo que neles é ligação ilegal na iluminação legal numa pública geral.

Quem fiscaliza a legalidade energética? Quem faz as alegadas ligações? Quem paga por elas? Quem ganha com isso? Consumidores ou com-sumo-dores? Hão-de (as)sumir com a questão.

Convenhamos que quem venha a seguir é quem está à frente. E os últimos serão sempre os últimos. E os primeiros… serão sempre os primeiros. Pago para ter luz e fico no escuro, apago a luz e lá vem a conta maior para pagar. Se não (a)pago sou um (a)pagão!

“Céus! Eletra, isto é um dilema: pagar ou não pagar.” Tenho, de fato, um bilema: se não pagar, fico sem luz. Se pagar fico com apagão. Nessa praga nada se apaga, tudo se paga… No escuro. Nessa escuridão… pago ou apago?

Se não fosse as ligações diríamos: “O último a sair apague a luz, por favor. Não! Quem sair primeiro desligue a luz e quem vier atrás… que fique no escuro” e, que no final do mês paga para não sofrer cortes, taxas de religação e juros sem pressa nenhuma.

E o que vai à frente não alumia duas vezes? Ou estou enganado, ou é a lâmpada que está fundida? Ir à frente ou não ir à frente? Eis a questão: To light or not to light? Entre “light” e “kafuka” o melhor mesmo é ter pilhas para isto porque senão… senão o quê? Ficamos sem energia!

Ricardino Rocha, 27.12.2011
http://www.9e10dejunho.blogspot.com/  ou no jornal impresso Asemana do dia 6 de janeiro de 2012.

*Não confundir Electra com Eletra: Segundo o NAO (Novo Acordo Ortográfico). Eu concluo como vocês. Como sou uma pessoa muito positiva, prefiro o SIM (Sempre Interpretando Mal)

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