Por:
Andreia Lobo
Fonte:
http://www.educare.pt/
"A
avaliação de professores é um assunto controverso, mas cada vez mais países
avaliam os seus docentes", admite Andreas Schleicher, porta-voz da OCDE em
matérias de educação. O EDUCARE.PT ouviu-o numa webinar transmitida do Encontro
Internacional sobre Profissão Docente, em Amesterdão.
"Os
professores mudam as nossas vidas, mas quem assegura a sua competência
profissional?" Com esta pergunta, Andreas Schleicher deu o mote no
discurso de apresentação do relatório "Usando a avaliação para melhorar o
ensino", elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE) e ao qual o EDUCARE.PT dará atenção noutro artigo. Trata-se de
um "assunto controverso", reconhece o responsável pela área da
educação, com propósitos e critérios nem sempre claros aos olhos dos docentes e
falta de consenso sobre quem a deve fazer.
Os
dados recolhidos pela OCDE revelam que oito em cada dez professores consideram
a avaliação "justa e útil" para o seu trabalho; um em cada quatro
confirma que tem impacto no seu desenvolvimento profissional; um em cada dez vê
os seus efeitos refletidos no salário, mas três em cada quatro consideram que a
avaliação não traz reconhecimento à sua capacidade de inovar nem à qualidade do
seu ensino.
Contrariar
o descrédito
Contrariar
algum descrédito quanto à utilidade da avaliação do desempenho docente implica
transparência dos processos, garante Schleicher: "É preciso haver clareza
quanto às suas consequências." Até porque os professores esperam
beneficiar das suas boas avaliações, diz o responsável pelo relatório. E
acrescenta: "Se o propósito da avaliação não é claro vai perder a
confiança dos professores e ter um impacto negativo."
Os
professores portugueses sabem bem do que fala o responsável da OCDE. Em
Portugal, a contestação à implementação do sistema de avaliação docente pela
ministra Maria de Lurdes Rodrigues assumiu proporções nunca vistas, com greves,
vigílias e manifestações por todo o país durante anos. Que, em última análise,
conduziram ao afastamento da ministra.
Os
receios da classe assentam no desconhecimento da resposta a esta grande
questão: Avaliar para quê? Segundo a OCDE, a avaliação deve ter dois objetivos:
o desenvolvimento profissional do professor, pelo que deve fornecer informação
válida aos avaliados; e a sua responsabilização, o que implica uma definição de
"boa prática de ensino" e a criação de um sistema de incentivos para
motivar os professores ao seu alcance.
Como
e para quê?
Avaliar
como e com quê? Entre os países-membros objeto de estudo no relatório
"Usando a avaliação para melhorar o ensino", a OCDE constatou uma
grande variedade de critérios e instrumentos de avaliação. Comum a quase todos
os modelos está o recurso à observação de aulas. A razão parece óbvia: é na
sala de aula que efetivamente se dá a prática letiva. Mas não foram apenas os
professores portugueses que reagiram mal a este instrumento. Mal explicado, o
processo de observação pode suscitar no professor um sentimento de que está a
ser vigiado, alerta a OCDE.
Diminuir
a desconfiança, insiste Schleicher, implica continuar a aprimorar os
instrumentos para a avaliação, de modo a torná-la mais justa e adaptada ao meio
onde se inserem as escolas. O recurso à autoavaliação, outro dos instrumentos
usado com frequência entre os vários países, é imprescindível diz Schleicher,
já que "encoraja os professores a refletir sobre a sua prática".
Outras
formas encontradas pelos países para avaliar os professores geram menos
consenso. No México, por exemplo, os docentes são submetidos a exames.
Controversa é também a inclusão dos resultados escolares obtidos pelos alunos
ao longo do ano ou em exames nacionais no processo de avaliação do docente.
Na
China a avaliação tem em conta a responsabilidade social do professor, entendida
como o contributo dado para a comunidade onde se insere. Isto, para além da
avaliação da qualidade da instrução e da capacidade de criar um bom ambiente na
sala de aula, vertentes por norma comuns a todos os modelos de avaliação. A
diversidade é muito bem vista pela OCDE assegura Schleicher: "É importante
haver múltiplos critérios e instrumentos."
Instituído
o processo de avaliação, é necessário definir o que fazer com os resultados.
Avaliar para quê? Entre os países da OCDE, 16% dos professores afirmam que a
avaliação tem impacto real na sua progressão na carreira; 27% consideram que
tornou o seu trabalho mais atrativo.
Tendo
o desenvolvimento profissional como objetivo, na Alemanha os resultados da
avaliação servem para identificar capacidades que os professores têm mas não
usam nas suas aulas. Poucos são os países onde a avaliação influencia
diretamente os salários, na maioria este impacto é sentido de forma indireta,
através da progressão na carreira.
Apesar
do otimismo que percorre o relatório da OCDE, Schleicher mostra-se ciente que
os problemas dos sistemas educativos não desaparecem só porque os docentes são
avaliados. "A avaliação não é o Santo Graal da educação", embora
"muitos países tenham provado que através dela é possível melhorar a qualidade
do ensino", conclui.
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