sexta-feira, 23 de abril de 2010

23 de Abril – Dia do Professor cabo-verdiano

Profissão ProfessorEntre a (des) avaliação e a (re) classificação –

«Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22,21)
Uma das coisas mais reconfortantes em qualquer profissão é o mérito e o reconhecimento pelo trabalho realizado. E, no trabalho de um professor maior satisfação é ver os seus alunos serem alguém na vida, pessoas que passaram pelas nossas mãos e hoje estão nas universidades, ou em diversos ramos de actividade. E isso não tem preço, muito menos uma avaliação sumativa.
Bento XVI na Quaresma de 2010, na sua mensagem, falou sobre «dare cuique suum», ou seja, dar a cada um aquilo que é seu. Esse «seu» devia ser para cada um. Todos (nós, os professores) sabemos que avaliar é uma tarefa axiologicamente muito complexa. Difícil é avaliar, muito difícil é ser avaliado. Mas porquê?
Todavia, é mais fácil ver o arqueiro nos olhos nos outros que ver a trave nos seus. Avaliar para além de ser axiologicamente complexo, porque exige emitir-se um juízo de valor, é preciso ser também instrumental. Aplicar métodos procedimentos e instrumentos para tal. Mas será que o avaliador sabe aplicá-los?
Muitos, poucos ou alguns não. Por ser uma tarefa complexa, na avaliação não se pode limitar a ter avaliador «tuxaua*» como amazonicamente se diz. É preciso que esse mesmo avaliador tenha conhecimentos especializados, com enorme sensibilidade, com capacidade analítica e comunicativa, com experiência de ensino e de elevada responsabilidade social.
Ora, se para avaliar é preciso tudo isso e muito mais e, quanto não se tem um pouco disso quem fica a perder (ou a ganhar!) é o próprio professor porque a sua avaliação não se resume apenas à sala de aula ou a tão desejada «percentagem de positivas». O avaliador não só trabalha com ele como profissional, mas também como pessoa. Porém o avaliado não tem participado no processo da sua avaliação.
Entretanto, é frustrante ver o professor, objecto de avaliação, chegar ao fim do ano lectivo e ver que ela não corresponde ao fruto produzido. Por um lado, não se avaliação e quando é assim, a Lei considera que seja qualitativamente Bom e fica-se por aí. Por outro lado, ela tem sido episódica e descontinuada para uns e fundamental para outros.
Episódica e descontinuada porque não se tem revelado útil para a Promoção e fundamental porque apenas sob bajulação e meretrício intelectual se é bem avaliado. Infelizmente é assim. Cala-te boca, senão acarretas o processo (em) disciplina. Falar a verdade é uma das coisas mais fáceis. Das coisas fáceis, falar a verdade é a mais difícil.
No entanto, o que se pede é que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus porque não se pode pedir a Deus que faça aquilo que o César pode fazer, nem exigir que César faça aquilo que só Deus pode fazer.
Por outro lado e por mesma razão, temos a questão da (re)classificação. Se são os professores que «derramam água sobre as mãos» do ministério, este tem contribuído para o sucesso profissional dos «seus»?
Constate-se, por exemplo, a discussão tanto na ilha do Sal como noutros pontos do país que muitos começam professores, passados alguns aninhos já são profissionais noutros ramos de actividade.
Ora vejamos: se um licenciado trabalhar numa empresa, logo é pago como tal, mas se esse licenciado for um professor, este terá que esperar 2, 3, 4 ou mais anos para o ser (reclassificado). Entretanto, se esse mesmo licenciado, por exemplo, nunca deu aulas é (re)classificado como tal. Onde está o «dare cuique suum»? Sumiu? Sim. Sumiu.
Efectivamente, essa questão vem sendo protestado de uma forma tímida e as decisões tomadas são no sentido de que «do ano que vem não passa» e, quando o «ano que vem» vier, deixemos isso para o próximo ano.
Nesta semana caboverdeanamente professora, nós os professores apenas conclamamos a sociedade cabo-verdiana a se solidarizar com quem dignamente faz da sua actividade docente um instrumento da construção da cidadania e do desenvolvimento nacional porque se se faz assim ao ramo verde o que se fará ao seco?

Ricardino Rocha
ricarsir@hotmail.com
www.9e10dejunho.blogspot.com
* tuxaua – líder.